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Mostrando postagens de maio, 2025

Redpill: a volta dos homens das cavernas com wi-fi e assinatura premium

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Por Carlos Lima* Se você ainda não ouviu falar do tal movimento redpill, parabéns: isso diz muito sobre a qualidade do seu algoritmo e da sua saúde mental. Mas para quem está minimamente atento às redes — especialmente YouTube, TikTok e fóruns masculinizados da internet — o redpillismo é o novo refúgio de uma geração de homens perdidos entre o fim da dominação patriarcal e a dificuldade de lidar com mulheres que não aceitam mais ser tapete. Vestidos de “realistas”, esses youtubers de voz grave e estética de coach existencial dizem estar oferecendo a verdade nua e crua. Só que, no lugar de análise social ou crítica política, entregam um caldeirão de ressentimentos reciclados, recheados de “ciência de boteco”, moralismo sexual e um bom toque de nostalgia das cavernas. Literalmente. A “filosofia” da redpill: cromossomos, testosterona e teorias de barbearia A base teórica? Uma mistura de Darwin mal digerido com manual do macho alfa comprado na Amazon. Para eles, a sociedade é governada por...

Elias Jabbour: O Fenômeno Intelectual que Recoloca o Socialismo no Centro da Política Brasileira

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  Por Carlos Lima* Em um Brasil marcado pela desigualdade histórica, por sucessivas crises do neoliberalismo e por uma esquerda muitas vezes encurralada no debate público, um intelectual tem surpreendido pelo alcance de suas ideias e pela força de sua trajetória: Elias Jabbour. Geógrafo, professor da UERJ, doutor pela USP, ex-diretor do Banco dos BRICS, autor premiado na China e militante comunista desde a juventude, Jabbour se tornou o epicentro de um fenômeno político e teórico: a retomada do socialismo como projeto de futuro — não como nostalgia do passado. Mas o que explica o impacto de Elias Jabbour em praças lotadas, redes sociais efervescentes, bancadas parlamentares e programas de pós-graduação? O que faz dele uma referência para comunistas, desenvolvimentistas, jovens militantes e até curiosos do campo econômico? A resposta está tanto em suas ideias quanto em sua vida. Da periferia de São Paulo à vanguarda do pensamento socialista Elias Marco Khalil Jabbour nasceu em ...

Ser Militante Comunista em Tempos de Dúvidas e Desfiliações

Por Carlos Lima, militante do PCdoB A desfiliação de uma militante histórica como Walkiria Nichteroy, revelada nas lutas estudantis e participante ativa na construção do projeto comunista em Niterói, é mais do que um episódio pessoal. É um espelho que nos obriga a olhar com profundidade para o sentido de ser militante de um partido do tipo comunista, forjado na luta de classes, com pretensões revolucionárias e não apenas eleitorais. Ser militante de um Partido Comunista é, antes de tudo, um compromisso com a transformação radical da sociedade, um vínculo que ultrapassa o imediatismo da conjuntura e a busca por reconhecimento institucional. A militância comunista é forma superior de consciência política , forjada na contradição entre capital e trabalho. Ela exige a compreensão de que a institucionalidade – por mais relevante que seja – é apenas uma das trincheiras da luta de classes. Quando essa consciência se fragiliza, quando a política se reduz ao horizonte eleitoral, abrem-se brec...

Sindicato.com.br? Os avanços e limites da comunicação sindical na era digital

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Por Carlos Lima* Nos últimos anos, o movimento sindical brasileiro atravessou transformações profundas em sua forma de comunicar. Pressionado pela ascensão das plataformas digitais, pelo avanço do discurso antissindical e pela reconfiguração do mundo do trabalho, o sindicalismo precisou reinventar suas estratégias de comunicação. Mas até que ponto isso tem ocorrido com a urgência, profundidade e alcance necessários? Entre avanços importantes e limitações persistentes, a comunicação sindical no Brasil hoje se encontra em um momento decisivo: ou assume sua centralidade como ferramenta de disputa ideológica e mobilização de base, ou corre o risco de continuar sendo ignorada por boa parte da classe trabalhadora, especialmente entre os mais jovens e precarizados. Avanços recentes: mais que panfletos Não há como negar: a comunicação sindical evoluiu. Sites, boletins digitais, perfis em redes sociais e podcasts se tornaram comuns em centrais como CUT, CTB, Intersindical e CSP-Conlutas, as...

Reindustrializar com os Pés no Chão: Por que a Base Metal-Mecânica é Essencial para o Brasil (parte II)

Por Carlos Lima* No primeiro artigo desta série, mostramos como mitos tecnológicos obscurecem a necessidade real de reconstruir a base industrial brasileira. Agora, avançamos na análise ao apontar um setor-chave cuja ausência no centro da política industrial compromete qualquer ambição de desenvolvimento soberano: a indústria metal-mecânica. O programa Nova Indústria Brasil (NIB) representa um passo necessário na reconstrução da capacidade produtiva nacional. Após décadas de políticas liberais, desmonte industrial e especialização regressiva na exportação de commodities, o país volta a falar em reindustrialização. Mas para que esse esforço seja bem-sucedido, é preciso enfrentar uma omissão que compromete todo o projeto: a ausência de centralidade estratégica para a indústria metal-mecânica . Abaixo, detalhamos por que este setor é fundamental, onde estão as insuficiências do atual programa e que caminhos podem recolocar o Brasil nos trilhos de uma industrialização soberana. 1. O qu...

Os Mitos da Indústria do Futuro e o Bloqueio à Reindustrialização Brasileira (parte I)

Por Carlos Lima* Em meio à euforia global com a chamada “Indústria 4.0”, o Brasil assiste, de forma passiva, à consolidação de uma armadilha ideológica: a crença de que o futuro produtivo prescinde de fábricas, máquinas e trabalhadores industriais. Essa ilusão tecnocrática, amplamente difundida por setores da mídia e parte do empresariado, tem servido mais para justificar a estagnação industrial brasileira do que para orientar qualquer estratégia de desenvolvimento soberano. A realidade, no entanto, é dura e inescapável: sem base industrial forte, não há futuro econômico autônomo . A longa marcha da desindustrialização Entre 1985 e 2023, a participação da indústria de transformação no PIB brasileiro caiu de 27% para cerca de 11%, segundo o IBGE. Trata-se de uma das maiores retrações industriais entre países de médio e grande porte no mundo. Essa perda não ocorreu de forma espontânea ou natural, mas foi resultado direto de escolhas políticas que favoreceram um modelo agroexportador ...

O enigma dos bilhões da CEDAE: promessas rasgadas, serviços precários, uso político do dinheiro público e descumprimento das obrigações contratuais

Por Carlos Lima* Em abril de 2021, o Governo do Estado do Rio de Janeiro realizou um dos maiores leilões de saneamento básico da história do Brasil: a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), que arrecadou R$ 22,6 bilhões. Sob o pretexto da modernização, da universalização do acesso à água e do fim do esgoto a céu aberto, a operação foi vendida à população como uma solução definitiva para os históricos problemas de saneamento no estado. Mas três anos depois, o que se vê é o oposto do prometido: tarifas abusivas, aumento explosivo de reclamações, obras não entregues, obrigações contratuais descumpridas e um rastro de dúvidas sobre o destino do dinheiro público, alimentando suspeitas de uso político e eleitoral dos recursos em favor do então governador Cláudio Castro (PL). A bilionária venda da água pública O leilão, realizado na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), dividiu o estado em quatro blocos operacionais: • Bloco 1 – arrematado pela Águas do Rio (Grupo Aegea)...

Correios do Brasil: entre o desmonte e o potencial de reconstrução estratégica

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Por Carlos Lima* Por uma política pública moderna, socialmente útil e economicamente sustentável Por muito tempo, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) foi símbolo de integração nacional e um dos serviços públicos mais reconhecidos pela população. Mesmo diante de décadas de sucateamento, ataques privatistas e políticas de austeridade, os Correios resistiram. No entanto, em 2025, a atual gestão da estatal anuncia um pacote de cortes que expõe não apenas um diagnóstico apressado da crise, mas também uma concepção de futuro míope, restrita a um ajuste contábil e distante de qualquer estratégia nacional de desenvolvimento. Enquanto países como Índia, França, Japão, Alemanha e China reposicionam suas estatais postais como braços logísticos, financeiros e digitais do Estado, o Brasil insiste em fazer a EBCT andar de marcha à ré. A austeridade como resposta errada para uma crise estrutural Com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024, a direção dos Correios anunciou medi...

📉 EUA rebaixado: o fim da era AAA e a hipocrisia fiscalista que sustenta impérios decadentes

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🖊️ Por Carlos Lima Os Estados Unidos foram rebaixados pela agência Moody’s. De novo. E mesmo assim, o mundo segue girando. Wall Street subiu, o dólar não derreteu, os investidores globais continuam comprando títulos do Tesouro americano como se nada tivesse acontecido. Mas o que realmente está por trás desse episódio? Não é apenas mais um ajuste técnico de nota — é uma fotografia nítida da hipocrisia estrutural que sustenta a lógica fiscalista aplicada seletivamente no mundo . E mais: é mais um sinal visível da decadência da hegemonia estadunidense e do esgotamento de um modelo imperial de dominação financeira global . Déficits são um problema... só para os outros A dívida pública dos EUA já ultrapassa os US$ 34 trilhões . Mesmo assim, os gastos militares seguem em alta, as guerras por procuração continuam e o orçamento federal vive sob o caos de disputas internas entre democratas e republicanos — com risco de "shutdown" quase permanente. Não há teto de gastos para o Pen...

O aço que constrói ou o aço que trava? Uma crítica à acomodação da siderurgia brasileira

Por Carlos Lima* A indústria siderúrgica brasileira atravessa um momento de contradição histórica. Em meio a uma conjuntura marcada pela retomada do crescimento, pelo novo ciclo de investimentos em infraestrutura, reindustrialização e transição energética, o setor responde não com ousadia produtiva ou inovação tecnológica, mas com um coro já conhecido: mais tarifas, mais barreiras, mais proteção. Como revelou matéria recente de Jamil Chade no UOL, representantes da siderurgia nacional pressionam o governo federal por novas medidas contra o aço chinês, num tom de urgência que parece mais um grito de socorro de quem se recusa a competir. O problema não está em discutir medidas de defesa comercial. Todo país soberano tem o direito de proteger setores estratégicos quando há riscos reais à sua base produtiva. Mas o que se vê no Brasil é um modelo de protecionismo sem contrapartidas , uma espécie de muleta institucionalizada para um setor que se habituou a operar sob a sombra do Estado, se...

Feminismo Emancipacionista e o Enfrentamento do Machismo: Para Além da Moralização

Por Carlos Lima, economista Resumo O presente artigo discute o enfrentamento do machismo na sociedade moderna sob a ótica do feminismo emancipacionista. Rejeitando abordagens moralizantes centradas na reeducação individual dos homens, propõe uma análise estrutural que articula gênero, classe e reprodução social. O texto parte da crítica à personalização da opressão de gênero, aprofunda o entendimento do machismo como componente funcional do capitalismo e propõe caminhos para o fortalecimento da luta popular por transformação real das condições de vida das mulheres. Por que não basta “ensinar o homem a não ser machista” O debate público contemporâneo sobre o machismo frequentemente se limita à esfera comportamental, adotando estratégias moralizantes que buscam “ensinar homens a não serem machistas”. Embora essa abordagem possa parecer progressista, ela oculta a natureza estrutural da opressão de gênero e acaba por despolitizar uma luta que exige transformação profunda das bases soci...

Bebês Reborn e a Infantilização Tóxica na Sociedade Contemporânea

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Por Carlos Lima* Como não sou psicólogo, pedi a ajuda a IA para fazer esse texto sobre a proliferação dos chamados “bebês reborn” — bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos. Essa espécie de massificação expõe traços significativos de uma cultura marcada pela regressão afetiva e pela negação das responsabilidades adultas. Embora tais objetos sejam, em certos contextos, utilizados com finalidades terapêuticas legítimas, seu consumo massivo revela elementos preocupantes de uma infantilização tóxica dos adultos , que deve ser analisada à luz da psicologia social crítica e das contradições do capitalismo contemporâneo. Trata-se de uma mercadoria que mobiliza afetos, ansiedades e carências em larga escala. Vendidos com trajes personalizados, “certidões de nascimento” e kits de cuidado, os reborns não são apenas brinquedos sofisticados ou peças de coleção: tornam-se simulacros de filhos, com os quais muitas pessoas estabelecem vínculos emocionais profundos. Há casos em que adultos o...

Cresce a precarização nas prefeituras: o avanço dos contratos temporários e a erosão do Estado de Bem-Estar Social

Por Carlos Lima* Enquanto o Brasil ainda sonha com a construção de um Estado de Bem-Estar Social pleno, digno das promessas constitucionais de 1988, um dado alarmante revela o caminho inverso: entre 2013 e 2023, as prefeituras brasileiras ampliaram em 52,5% o número de funcionários temporários. Hoje, cerca de 20% da força de trabalho municipal é composta por trabalhadores sem vínculo permanente, segundo dados divulgados pelo IBGE e noticiados pela Folha de S.Paulo . Em 11% dos municípios, mais da metade do funcionalismo é temporário. Sob o pretexto de contenção de despesas e de respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, prefeitos e gestores substituem concursos públicos por contratações frágeis, de curta duração, que minam a estabilidade e a profissionalização do serviço público. Na prática, isso equivale a desmontar as bases do serviço público de qualidade e a desfigurar o papel do Estado como garantidor de direitos. O impacto é profundo nas áreas mais sensíveis à população — saúde,...

Saúde Caixa: o desmonte de um direito histórico e a resposta necessária da classe trabalhadora

Por Carlos Lima* O plano de saúde dos empregados da Caixa Econômica Federal, construído ao longo de décadas como expressão concreta da solidariedade e da luta coletiva dos bancários, vem sofrendo um processo acelerado de desmonte. A atual gestão da empresa, mesmo sob um governo popular, opta por manter políticas neoliberais herdadas do período golpista, como o famigerado teto de 6,5% da folha de pagamento para a contribuição patronal. Essa decisão, longe de ser neutra, é profundamente lesiva aos direitos dos trabalhadores — especialmente dos aposentados, que estão sendo empurrados para fora do plano por conta de reajustes brutais. Um dos efeitos mais cruéis dessa política é a previsão de um aumento médio inicial de 77% nas mensalidades dos aposentados, conforme divulgado pela APCEF/SP. Embora esse reajuste ainda não tenha sido efetivado, sua mera possibilidade evidencia o objetivo oculto da Caixa: tornar inviável a permanência dos que mais utilizam o plano, forçando a saída de milha...