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Elias Jabbour: O Fenômeno Intelectual que Recoloca o Socialismo no Centro da Política Brasileira

 


Por Carlos Lima*

Em um Brasil marcado pela desigualdade histórica, por sucessivas crises do neoliberalismo e por uma esquerda muitas vezes encurralada no debate público, um intelectual tem surpreendido pelo alcance de suas ideias e pela força de sua trajetória: Elias Jabbour. Geógrafo, professor da UERJ, doutor pela USP, ex-diretor do Banco dos BRICS, autor premiado na China e militante comunista desde a juventude, Jabbour se tornou o epicentro de um fenômeno político e teórico: a retomada do socialismo como projeto de futuro — não como nostalgia do passado.

Mas o que explica o impacto de Elias Jabbour em praças lotadas, redes sociais efervescentes, bancadas parlamentares e programas de pós-graduação? O que faz dele uma referência para comunistas, desenvolvimentistas, jovens militantes e até curiosos do campo econômico?

A resposta está tanto em suas ideias quanto em sua vida.

Da periferia de São Paulo à vanguarda do pensamento socialista

Elias Marco Khalil Jabbour nasceu em 1975 na periferia da zona leste de São Paulo. Filho de um imigrante libanês e de uma trabalhadora nordestina da Paraíba, foi criado em um lar modesto, onde nunca sobrou nada — exceto dignidade e luta. Perdeu o pai precocemente, aos 11 anos, o que levou sua mãe, Maria da Luz, a assumir sozinha a responsabilidade de criar os filhos em meio às adversidades sociais. Foi ela sua primeira referência de resistência.

Desde cedo, Elias enfrentou o peso do preconceito, do bullying, da invisibilidade típica da juventude periférica. Mas encontrou nos livros, no esforço próprio e na organização popular caminhos para enfrentar a exclusão. Ingressou na União da Juventude Socialista (UJS) ainda na adolescência, e logo depois no PCdoB, partido ao qual permanece fiel até hoje.

Formação sólida e produção revolucionária

A trajetória acadêmica de Jabbour é marcada pela coerência entre teoria e prática. Graduou-se em Geografia pela USP, onde também concluiu o mestrado e o doutorado em Geografia Humana. Sua pesquisa sempre teve foco no planejamento estatal, no desenvolvimento e, principalmente, na China — país que se tornou seu campo privilegiado de investigação.

Sua tese de doutorado analisou o projeto nacional e o socialismo de mercado na China contemporânea, antecipando o que viria a ser sua grande contribuição teórica: a formulação, ao lado do economista Alberto Gabriele, da Nova Economia do Projetamento.

Essa teoria propõe uma forma sofisticada e contemporânea de socialismo, baseada em planificação estratégica, inovação tecnológica, protagonismo estatal e articulação entre empresas públicas e privadas. Um modelo que rompe tanto com o estatismo burocrático do século XX quanto com a anarquia neoliberal.

Seu livro China: o Socialismo do Século XXI recebeu em 2023 o Special Book Award of China, a mais alta honraria concedida pelo governo chinês a autores estrangeiros que contribuem para a compreensão do país.

Militante e formulador: o comunismo de pés no chão e olhos no futuro

Mesmo com reconhecimento internacional, Jabbour nunca se afastou da militância de base. É professor da UERJ, onde leciona nos programas de pós-graduação em Economia e Relações Internacionais, mas também é figura frequente em atividades do PCdoB, sindicatos, centros de formação política e rodas de conversa com a juventude.

Em 2025, foi protagonista da campanha “O Futuro Tem Partido”, promovida pelo PCdoB, percorrendo o país com debates sobre o papel do Estado, multipolaridade, soberania, planejamento e socialismo. Sua presença arrasta multidões. Seu discurso rompe o academicismo elitista, sem jamais perder densidade teórica. Sua fala reconstrói o horizonte comunista com método, dados e paixão.

Nas redes sociais, se tornou um dos raros intelectuais marxistas brasileiros com audiência significativa. Seus vídeos, entrevistas e postagens viralizam entre jovens, professores, militantes, parlamentares e até curiosos. Jabbour dialoga com quem está perdido num mundo em colapso e quer respostas ancoradas na realidade.

O socialismo como horizonte brasileiro

O fenômeno Elias Jabbour é mais que o sucesso de um intelectual: é o reflexo de um tempo novo. Um tempo em que a falência do ultraliberalismo expõe a urgência de alternativas sistêmicas. Um tempo em que a China rompe o discurso do “fim da história” com crescimento, soberania e avanços tecnológicos. Um tempo em que a classe trabalhadora brasileira busca, ainda que difusamente, um projeto de país que reconstrua sua esperança.

Jabbour não oferece atalhos. Ele propõe planejamento, estratégia, organização — e Partido. Seu socialismo não é utopia infantil, mas projeto de futuro ancorado em experiências concretas, com base científica e lastro histórico.

Para ele, o Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento que articule Estado forte, reindustrialização, soberania energética, reforma agrária, ciência, tecnologia e poder popular. E para isso, precisa de uma vanguarda organizada.

É por isso que Jabbour afirma com convicção: o futuro tem Partido. E se esse futuro quiser ser popular, soberano e socialista, esse Partido só pode ser o PCdoB.


*Carlos Lima é economista e dirigente sindical da CTB-RJ e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro 

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