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Prometeu ao contrário: como Galípolo entregou o fogo do crédito ao altar dos rentistas

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Por Carlos Lima Na mitologia grega, Prometeu é o titã que ousou desafiar os deuses do Olimpo para beneficiar a humanidade. Com coragem, ele roubou o fogo sagrado — símbolo do conhecimento, do progresso e da autonomia — e o entregou aos homens, permitindo-lhes construir ferramentas, cozinhar alimentos e desenvolver a civilização. Como punição, foi acorrentado a uma rocha, onde uma águia enviada por Zeus devorava, dia após dia, o seu fígado, que se regenerava todas as noites, num ciclo eterno de dor. Essa figura heroica e sacrificada passou a representar o espírito de rebeldia e o compromisso com o bem comum. Quando Galípolo assumiu a presidência do Banco Central, que comanda o Comitê de Política Monetária (Copom), muitos sonharam com um “Prometeu moderno”, capaz de enfrentar os deuses do mercado e libertar o povo da fogueira dos juros altos. Mas o que se revelou foi uma amarga decepção: em vez de desafiar os deuses do rentismo, Galípolo ofereceu o próprio fogo do povo ao altar dos barõe...

Turismo como Vetor Estratégico de Desenvolvimento: a Urgente Necessidade de um Plano Estadual Integrado para o Rio de Janeiro

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Por Carlos Lima Turismo em foco O turismo é uma das atividades econômicas mais transversais e promissoras do século XXI. No caso do Rio de Janeiro, sua diversidade cultural, geográfica e histórica o posiciona entre os estados com maior potencial turístico do país — tanto para o público doméstico quanto internacional. Contudo, a ausência de um plano estadual integrado de fomento ao turismo tem limitado a capacidade de transformar essa vocação natural em ganhos econômicos, sociais e ambientais mais distribuídos e sustentável. Um setor bilionário: dados que justificam a urgência Estudo recente realizado com base em dados de 2023 e projeções para 2024 estimou que o turismo movimenta anualmente: • R$ 8,63 bilhões em receitas diretas no Estado do Rio de Janeiro; • R$ 1,73 bilhão em impactos induzidos (efeitos sobre comércio, transporte, serviços e consumo geral); • Totalizando um impacto econômico de R$ 10,36 bilhões por ano; • Com geração estimada de mais de 114 mil empregos diretos e indi...

Parte 2 – Decreto Postal é avanço formal, mas exige ações urgentes para reverter a crise

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Por Carlos Lima* Marco regulatório atualiza o papel dos Correios, mas sem investimento, recomposição de pessoal e nova gestão, o potencial pode ser desperdiçado Atualização legal: passo importante, mas inicial O Decreto nº 12.464/2025, assinado em maio, representou um avanço institucional relevante ao regulamentar, após mais de 40 anos, a Lei Postal (Lei nº 6.538/1978). Ao reafirmar os serviços postais como dever do Estado e reconhecer os Correios como empresa pública essencial, o governo federal sinalizou uma ruptura com a agenda privatista dos últimos anos. A estatal passa a contar com respaldo legal mais claro para cumprir sua função estratégica, inclusive em situações de emergência, como ocorreu nas enchentes no Rio Grande do Sul. Novas possibilidades operacionais O decreto amplia a base legal para os Correios atuarem em setores como: Certificação digital e assinatura eletrônica; Marketplace próprio e apoio ao e-commerce nacional; Transporte de produtos antes proibi...

Parte 1 – A Crise Fabricada: como os Correios chegaram ao colapso

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Por Carlos Lima* De anos de desmonte ao imobilismo gerencial, o sucateamento programado de uma estatal estratégica A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) enfrenta em 2025 uma das piores crises de sua história. O prejuízo no primeiro trimestre do ano, que mais que dobrou em relação a 2024 e atingiu R$ 1,72 bilhão , revelou o esgotamento de um modelo baseado no desmonte, na omissão gerencial e na lógica do enxugamento permanente. Com um patrimônio líquido negativo de R$ 6,08 bilhões , a estatal entrou tecnicamente em colapso — e embora a atual gestão reconheça os desafios herdados, suas respostas têm sido tímidas, contraditórias e, até aqui, incapazes de reverter a trajetória descendente . Um processo de desmonte planejado Entre 2016 e 2022, os Correios foram alvo de uma política de esvaziamento e preparação para a privatização. Cortes orçamentários, congelamento de concursos públicos, terceirizações e abandono da infraestrutura compuseram o cenário. Durante o governo Bolso...

Xi Jinping e a Revolução Silenciosa da Indústria Chinesa: Lições e Alertas para o Brasil

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Por Carlos Lima* No dia 19 de maio de 2025, o presidente chinês Xi Jinping visitou a fábrica da Luoyang Bearing Group, na província de Henan. Fundada em 1954, a fábrica é uma das mais antigas e estratégicas produtoras de rolamentos industriais da China — componentes essenciais para setores como transporte ferroviário, aeroespacial, energético e maquinário pesado. Mais do que uma simples visita, o gesto de Xi carrega um valor político, ideológico e geopolítico que merece atenção especial de quem defende um projeto nacional de desenvolvimento no Brasil. Segundo publicação do portal Brasil 247, com informações da agência estatal Xinhua, a visita de Xi Jinping teve como objetivo inspecionar os esforços locais para acelerar o desenvolvimento da manufatura avançada e reforçar a estratégia de autossuficiência tecnológica. Durante a inspeção, Xi visitou a sede da Luoyang Bearing Group Co., Ltd., uma das mais importantes fabricantes chinesas de rolamentos, e destacou a importância de fortalecer...

Reindustrialização e soberania produtiva: os avanços do governo Lula e os inimigos do desenvolvimento nacional

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  Por Carlos Lima* O Brasil viveu, nas últimas décadas, um processo brutal de desindustrialização e regressão tecnológica. Esse processo não foi espontâneo: teve autores. Ele foi conduzido por governos neoliberais como os de Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Jair Bolsonaro , que aplicaram uma agenda de abertura comercial desordenada, privatizações, desmonte da engenharia nacional e submissão à lógica dos mercados financeiros. Sob o pretexto de “modernização”, desmantelaram políticas industriais, enfraqueceram os bancos públicos e eliminaram qualquer projeto de desenvolvimento nacional soberano . Cadeias produtivas foram interrompidas, a indústria de bens de capital foi deixada ao abandono, e a capacidade do Estado de planejar o desenvolvimento foi sabotada em nome da chamada “eficiência dos mercados”. Foi uma escolha política deliberada, subordinada aos interesses do capital financeiro, que empurrou o país para a periferia da economia global. Ressalte-se que a luta por rei...

Redpill: a volta dos homens das cavernas com wi-fi e assinatura premium

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Por Carlos Lima* Se você ainda não ouviu falar do tal movimento redpill, parabéns: isso diz muito sobre a qualidade do seu algoritmo e da sua saúde mental. Mas para quem está minimamente atento às redes — especialmente YouTube, TikTok e fóruns masculinizados da internet — o redpillismo é o novo refúgio de uma geração de homens perdidos entre o fim da dominação patriarcal e a dificuldade de lidar com mulheres que não aceitam mais ser tapete. Vestidos de “realistas”, esses youtubers de voz grave e estética de coach existencial dizem estar oferecendo a verdade nua e crua. Só que, no lugar de análise social ou crítica política, entregam um caldeirão de ressentimentos reciclados, recheados de “ciência de boteco”, moralismo sexual e um bom toque de nostalgia das cavernas. Literalmente. A “filosofia” da redpill: cromossomos, testosterona e teorias de barbearia A base teórica? Uma mistura de Darwin mal digerido com manual do macho alfa comprado na Amazon. Para eles, a sociedade é governada por...