Carlos Lima – Economista
O tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos estratégicos do Brasil não é apenas uma medida comercial hostil. É um ataque geopolítico com objetivos políticos nítidos: enfraquecer a economia brasileira, desestabilizar o governo e dividir o empresariado nacional. E diante desse ataque, parte da elite brasileira — ao invés de defender o país — se alia ao agressor. Surgem, então, com nitidez, os contornos da quinta coluna do capital: um bloco composto por empresários antipovo, operadores políticos da extrema-direita, representantes do bolsonarismo e setores do Congresso que, em vez de reagirem como nacionais, atuam como agentes internos de submissão.
A expressão “quinta coluna”, cunhada durante a Guerra Civil Espanhola, descrevia os infiltrados que, de dentro da cidade, preparavam sua queda em favor das tropas inimigas. Hoje, ela se aplica com precisão a quem opera contra o projeto nacional e em favor dos interesses externos, especialmente os ligados ao trumpismo e ao capital financeiro internacional. Trata-se de uma elite que não reconhece na soberania um valor estratégico, e que, em meio a uma crise provocada de fora, se movimenta para lucrar e capturar o Estado — em vez de defender o país.
Tarifas seletivas, lobby externo e chantagem interna
Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros com alegações genéricas de “ameaça à segurança nacional” e “instabilidade institucional”. Mas, ao mesmo tempo, liberou cerca de 700 produtos da sobretaxa, muitos deles de interesse direto da indústria e do consumidor norte-americanos. Itens como alumínio, energia, petróleo, fertilizantes e celulose foram isentados. Já produtos simbólicos da pauta brasileira — café, carnes, aço, calçados e têxteis — permaneceram na lista trumpista.
Esses produtos não foram escolhidos ao acaso. Eles atingem fortemente redutos bolsonaristas no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Ainda assim, em vez de reagirem institucionalmente por meio do Itamaraty ou das entidades setoriais, grandes empresários desses setores estão negociando diretamente com operadores políticos dos EUA, entre eles Eduardo Bolsonaro, hoje instalado nos Estados Unidos e articulado com figuras como Steve Bannon, para obter isenções personalizadas à margem do governo brasileiro. Ao mesmo tempo, pressionam Brasília para serem incluídos nos programas de contingência econômica, exigindo subsídios, desonerações e crédito público — com a justificativa de preservar empregos.
Essa é a lógica da chantagem dupla: negociam favores com o agressor externo e chantageiam o governo interno com a ameaça do desemprego. O interesse coletivo do país é colocado em segundo plano. O que vale, para eles, é o lucro de curto prazo.
Ganhar com a crise: o negócio da sabotagem
Essa elite econômica vê na crise uma oportunidade para ampliar sua influência. Lucram com a alta do dólar, pressionam o governo por incentivos, triangulam exportações via subsidiárias estrangeiras e se beneficiam da desorganização da política comercial. Não buscam segurança para a produção nacional nem estabilidade para os trabalhadores. Querem transformar o caos em privilégio, e a agressão em barganha.
Trata-se da mesma burguesia que aplaudiu o golpe de 2016, apoiou a destruição da indústria de engenharia nacional pela Lava Jato, e festejou a eleição de Bolsonaro mesmo diante da barbárie social e da submissão internacional. Agora, em vez de se alinhar à defesa da soberania e da reconstrução nacional, atua para fragilizar o Estado e oferecer seus serviços ao novo senhor — Trump e seu projeto de recolonização hemisférica.
A conexão com o trumpismo e o ataque ao multilateralismo
A quinta coluna brasileira se articula organicamente com a extrema-direita internacional. Apoia Trump porque vê nele um aliado contra qualquer projeto de reconstrução nacional baseado na soberania, na democracia e na justiça social. Essa elite repudia os BRICS, sabota o multilateralismo e despreza a integração regional latino-americana. Vê com desconfiança o uso de moedas locais, os acordos estratégicos com China, Rússia e África, e teme um mundo multipolar porque sabe que, nesse mundo, o Brasil pode se tornar soberano demais para seus próprios interesses de classe.
Enquanto o governo Lula busca consolidar relações mais equilibradas com países do Sul Global, diversificar os fluxos de comércio e integrar o Brasil a uma nova ordem internacional baseada na cooperação e na soberania, esses setores tentam arrastar o país de volta à órbita subordinada dos EUA, inclusive atacando publicamente a diplomacia brasileira e usando o Congresso como instrumento de obstrução.
A quinta coluna também é política e institucional
Essa traição não está limitada ao setor empresarial. Ela se estende ao Congresso Nacional, onde parlamentares bolsonaristas e neoliberais sabotam sistematicamente qualquer iniciativa de proteção à indústria, à agricultura familiar ou ao emprego. É visível também em setores do Judiciário, da mídia tradicional e das agências reguladoras, que operam para enfraquecer o Estado e deslegitimar políticas públicas soberanas. Há uma articulação interna poderosa contra o projeto de desenvolvimento nacional — e ela não se esconde mais.
Os mesmos que se dizem patriotas quando falam em bandeira, hino e quartel, se calam diante da humilhação tarifária imposta ao Brasil por um governo estrangeiro. Pior: usam a crise para aumentar sua influência, capturar orçamento público e pressionar por mais privatizações, mais concessões, mais dependênci
É hora de um movimento nacional em defesa da soberania
Diante dessa ofensiva, é urgente a formação de um movimento popular e nacional em defesa da soberania. Um movimento que una sindicatos, centrais de trabalhadores, movimentos sociais, universidades, parlamentares comprometidos, setores produtivos conscientes, forças democráticas e instituições públicas comprometidas com o povo brasileiro. A soberania nacional não é um tema exclusivo da esquerda ou da diplomacia — é o pilar de qualquer projeto de Nação com futuro.
É hora de recolocar a soberania, o desenvolvimento, a reindustrialização e a multipolaridade como centros do debate nacional. O Brasil precisa dizer não ao entreguismo, à chantagem e à manipulação. Precisa dizer sim à reconstrução nacional com dignidade, autonomia e justiça.
Entre a pátria e o lucro, a quinta coluna já escolheu
Chamar essa elite de quinta coluna não é exagero — é precisão. Eles vivem no Brasil, mas não agem pelo Brasil. Têm CNPJ aqui, mas contas, interesses e alianças fora. Eles não querem um país forte: querem uma plataforma de exportação, um balcão de negócios e um Estado enfraquecido.
A luta entre soberania e submissão está em curso. E cada um de nós precisa escolher de que lado está. Ou reconstruímos um Brasil soberano, democrático, desenvolvido e respeitado no mundo, ou assistimos, mais uma vez, à entrega silenciosa da nossa pátria aos interesses de fora — com a conivência dos de dentro.
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