Por Carlos Lima
A Copa do Mundo de Clubes 2025, realizada com pompa e grife nos Estados Unidos, escancarou mais uma vez a profunda desigualdade estrutural que separa o futebol global entre centros bilionários e periferias formadoras. O caso de João Pedro, atacante brasileiro contratado pelo Chelsea durante o próprio torneio e inscrito às pressas, é apenas o símbolo mais recente de como o futebol virou palco de um darwinismo financeiro legitimado pelas regras da própria FIFA.
A permissão da entidade máxima do futebol para que clubes incluam jogadores no decorrer do Mundial, mesmo com o torneio em andamento, não é apenas uma brecha técnica: é uma licença para os ricos vencerem. Clubes como Chelsea, Manchester City, Real Madrid e Bayern têm acesso ilimitado ao mercado de transferências, podendo contratar, registrar, legalizar e escalar um atleta em questão de 48 horas, enquanto clubes sul-americanos ou africanos mal conseguem cobrir a folha salarial com cotas de TV instáveis e patrocínios locais.
João Pedro ainda vestia a camisa do Brighton quando o torneio começou. Em 2 de julho, virou jogador do Chelsea por mais de £55 milhões de libras. Três dias depois, já estava em campo pelas quartas de final contra o Palmeiras. Na semifinal, cravou dois gols e eliminou o Fluminense — o clube que o revelou. Um jogador comprado durante o campeonato, decidido por critérios financeiros, elimina justamente o time da sua origem. O futebol moderno não cansa de ser cruel com quem constrói e generoso com quem compra.
Essa lógica distorce a própria ideia de competição. O Mundial deveria ser um encontro dos melhores clubes de cada continente, em condições minimamente iguais. Em vez disso, temos um circo corporativo montado para consagrar o já consagrado, reforçar a hegemonia europeia e exibir a força geopolítica do capital esportivo. A FIFA veste a máscara da globalização, mas entrega um produto desigual, excludente e cada vez mais moldado por interesses financeiros.
Não é coincidência que times brasileiros, como Flamengo, Palmeiras, Botafogo e Fluminense, tenham caído um a um, mesmo com elencos competitivos. Eles não disputam apenas contra clubes — disputam contra conglomerados, fundos de investimento, bancos, megaempresários e estruturas jurídicas sofisticadas. Disputam contra o próprio modelo que os marginaliza.
Enquanto isso, a FIFA aplaude e os patrocinadores agradecem.
O futebol que nasceu do povo, nas várzeas, nos campinhos de barro e nos clubes sociais de bairro, vai sendo empacotado, higienizado e transformado num mercado de commodities humanas. A elite global não quer surpresas. Quer previsibilidade. E para isso, muda regras, altera regulamentos e estende prazos, sempre a favor de quem já tem mais.
A pergunta que não quer calar: e se fosse o contrário? E se um clube brasileiro comprasse um jogador inglês no meio do Mundial e o escalasse numa semifinal contra o Chelsea? A FIFA aprovaria com a mesma agilidade?
Difícil saber. Mas fácil imaginar a resposta.
O que se impõe é uma reflexão crítica e urgente. O futebol mundial está sob hegemonia financeira e regulatória dos países ricos. O resto que lute. Ou melhor: que revele, que forme, que exporte — e que depois assista de camarote a seus talentos brilharem por outros escudos. É um colonialismo moderno com chuteiras.
Se quisermos um futebol mundial verdadeiramente democrático, é preciso questionar esse modelo. Porque o que vimos em 2025 foi menos um campeonato e mais uma encenação do que o dinheiro permite. E nesse jogo, os bilionários sempre largam na frente.

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