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Turismo como Vetor Estratégico de Desenvolvimento: a Urgente Necessidade de um Plano Estadual Integrado para o Rio de Janeiro


Por Carlos Lima

Turismo em foco

O turismo é uma das atividades econômicas mais transversais e promissoras do século XXI. No caso do Rio de Janeiro, sua diversidade cultural, geográfica e histórica o posiciona entre os estados com maior potencial turístico do país — tanto para o público doméstico quanto internacional. Contudo, a ausência de um plano estadual integrado de fomento ao turismo tem limitado a capacidade de transformar essa vocação natural em ganhos econômicos, sociais e ambientais mais distribuídos e sustentável.

Um setor bilionário: dados que justificam a urgência

Estudo recente realizado com base em dados de 2023 e projeções para 2024 estimou que o turismo movimenta anualmente:

• R$ 8,63 bilhões em receitas diretas no Estado do Rio de Janeiro;

• R$ 1,73 bilhão em impactos induzidos (efeitos sobre comércio, transporte, serviços e consumo geral);

• Totalizando um impacto econômico de R$ 10,36 bilhões por ano;

• Com geração estimada de mais de 114 mil empregos diretos e indiretos.

A maior parte dessa riqueza está concentrada na Região Metropolitana, especialmente no município do Rio de Janeiro. No entanto, regiões como a Costa Verde, a Região dos Lagos e a Serra Verde Imperial também possuem forte presença turística e potencial de expansão, desde que recebam investimentos adequados e ações articuladas de promoção, infraestrutura e qualificação.

Desafios estruturais

Apesar dos números expressivos, o setor enfrenta gargalos que travam sua plena expansão:

• Forte sazonalidade em regiões de litoral e montanha;

• Infraestrutura precária em muitos polos turísticos (estradas, saneamento, sinalização);

• Alta informalidade em serviços de hospedagem e alimentação;

• Baixa qualificação profissional em atendimento, línguas estrangeiras e recepção;

• Ausência de governança regional integrada, com cooperação efetiva entre prefeituras, consórcios, setor privado e comunidade local;

• Concentração excessiva dos ganhos na capital, com interior pouco promovido e com baixa presença nos circuitos nacionais e internacionais.

A proposta de um plano estadual integrado de turismo

A superação desses entraves exige a construção de um Plano Estadual Integrado de Fomento ao Turismo, com foco na sustentabilidade, inclusão, diversificação regional e geração de trabalho decente.

Esse plano deve envolver:

1. Governança compartilhada

Criação de um comitê estadual multissetorial com representantes do Governo do Estado, prefeituras, setor empresarial (hotéis, restaurantes, agências, comércio), entidades sindicais dos trabalhadores, universidades e organizações comunitárias.

2. Investimento em infraestrutura turística

Ampliação de acessos, saneamento básico, sinalização, centros de atendimento ao turista, conectividade digital e requalificação urbana de áreas históricas e culturais.

3. Promoção nacional e internacional descentralizada

Fortalecer a atuação da TurisRio e dos Conventions & Visitors Bureaux regionais, com roteiros integrados (cultura, natureza, gastronomia, eventos), promovendo além da capital destinos como Paraty, Petrópolis, Búzios, Vassouras, Teresópolis e Itatiaia.

4. Qualificação profissional e estímulo ao trabalho decente

Articulação entre FAETEC, SENAC, SEBRAE, universidades e sindicatos para formação em hospitalidade, línguas, turismo de base comunitária e gestão de pequenos empreendimentos.

5. Fomento ao turismo de base comunitária e sustentável

Apoio técnico e financeiro a cooperativas, quilombos, comunidades ribeirinhas e culturais, promovendo roteiros autênticos e inclusivos com geração de renda local.

6. Sistemas de informação e monitoramento

Implantação de um Observatório Fluminense de Turismo, com base em universidades públicas, para coletar dados, avaliar impactos e subsidiar políticas públicas com rigor técnico.

Turismo como política de Estado

A experiência internacional demonstra que o turismo, quando bem planejado, é capaz de:

• Interiorizar o desenvolvimento econômico;

• Reduzir desigualdades regionais e sociais;

• Gerar empregos de forma rápida e diversificada;

• Atrair investimentos estrangeiros;

• Fortalecer identidades culturais e a autoestima das comunidades locais.

No Brasil, estados como Minas Gerais, Bahia e Santa Catarina já possuem estruturas mais robustas de articulação regional, mostrando que é possível avançar com inovação e cooperação federativa.

Hora de agir

Diante da relevância econômica fluminense — e de sua capacidade de gerar efeitos multiplicadores para diversas cadeias produtivas —, a elaboração de um plano estadual integrado e pactuado é uma tarefa urgente e estratégica.

Mais do que promover destinos, trata-se de planejar o desenvolvimento territorial com base no turismo, transformando potencial em prosperidade concreta. Com planejamento, participação e investimento, o Rio de Janeiro pode consolidar o turismo como um dos principais pilares de sua economia e vetor de inclusão e bem-estar para sua população.

Carlos Lima é economista e dirigente da CTB-RJ e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. É também membro do Conselho Estadual de Trabalho, Emprego e Renda do RJ (CETER/RJ)


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