Por Carlos Lima
A recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China não foi apenas mais um capítulo da diplomacia bilateral. Foi uma afirmação simbólica e estratégica de que o Brasil — e com ele, o Sul Global — não aceita mais o papel subalterno que lhe foi historicamente imposto. Mais do que estreitar laços com Pequim, Lula foi enterrar a Doutrina Monroe e reafirmar a busca por um mundo multipolar.
Ao desembarcar com ministros e empresários para fechar acordos em infraestrutura, energia e tecnologia, Lula deixou claro: a relação com a China é pragmática, baseada em desenvolvimento concreto, e não em promessas vazias travestidas de “promoção da democracia” — marca registrada de intervenções desastrosas patrocinadas por Washington ao longo do século XX.
Na sede do Banco dos BRICS em Xangai, presidido por Dilma Rousseff, o gesto político foi ainda mais poderoso. A mesma mulher que enfrentou um tribunal militar aos 22 anos e foi destituída por um impeachment controverso agora conduz os investimentos de um banco pensado para financiar o desenvolvimento de países do Sul. Um símbolo de continuidade na luta pela soberania — agora no plano financeiro e geopolítico.
Longe de ser movida por ideologia, essa aproximação tem base em interesses reais. Enquanto os EUA oferecem sanções e tarifas, a China oferece trens, 5G e satélites. A escolha é lógica para países que buscam se libertar das amarras do FMI, das chantagens do dólar e dos limites impostos por décadas de dependência.
Lula, Petro e Boric não foram eleitos para serem subprefeitos do império. Vieram para construir um novo projeto, baseado em integração, autonomia e cooperação horizontal. O eixo do poder começa a se mover — e ele já não passa por Davos.
Para muitos no Norte, é apenas mais um giro presidencial. Para o Sul, é um marco. A geopolítica global está mudando de mãos — e desta vez, os colonizados não querem apenas resistir. Querem governar.
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